LUANDA MINHA SAUDADE!
Caminhos dos musseques *
Caminhos dos musseques
lá onde a areia entra pelos sapatos
daqueles que têm sapatos
lá onde o sol se filtra pelas fendas
pelos buracos dos pregos
dos tetos de zinco.
Caminhos antigos.
Caminhos antigos como o Mundo.
A cidade empurrou os musseques
e o cacimbo caiu mais de mansinho
escondendo as figuras esguias
e os rostos de chumbo.
Lá
onde a esteira cobre o chão varrido todas as manhãs
lá
onde a fuba substitui todas as claridades
lá
onde a cerveja escorre pouco
porque não há dinheiro de comprar.
Caminhos antigos
onde a eletricidade começa a fazer circular
"idéias estrangeiras"
onde os motores dos carros
acordam as madrugadas das crianças
que antigamente ouviam passarinhos.
As fendas, os muros, os tetos
os buracos dos caminhos
esboroando-se no passado
alcatrão penetrando e desmentindo a mudança
cimento e cal erguendo os muros cinzentos das fábricas
saias lutando contra os panos das velhas
telefone até.
Nas almas... um grande vazio
preenchido pelos merengues que vêm de fora.
Lá - caminhos da vida
Lá no mato. Lá no campo. Lá na floresta. Lá no estrangeiro.
Lá onde se nasce, vive e morre todos os dias
com kambaritókué ou sem ele
com um lençol simples ou uma vala comum
morrendo apenas é que tudo acaba.
A vida tem de ser dignamente vivida.
Vamos juntar as nossas cobardias
os nossos sofrimentos
as nossas ansiedades
nossas angústias
nossos sorrisos
nossos sarcasmos
a nossa coragem
nossas vidas.
Vamos
Lá - no musseque - areais vermelhos
onde passam os caminhos da vida
e vamos
dizer
corajosamente
às crianças que esperam o nosso exemplo
que este quintal
tem de ser estrumado com sangue
adubado de sofrimento
cultivado com as dores
mangueiras
anoneiras
gindungueiros
frutificando ao sol e ao luar
para quê dizer mais versos
que só o povo entende?
Caminhos dos musseques *
Caminhos dos musseques
lá onde a areia entra pelos sapatos
daqueles que têm sapatos
lá onde o sol se filtra pelas fendas
pelos buracos dos pregos
dos tetos de zinco.
Caminhos antigos.
Caminhos antigos como o Mundo.
A cidade empurrou os musseques
e o cacimbo caiu mais de mansinho
escondendo as figuras esguias
e os rostos de chumbo.
Lá
onde a esteira cobre o chão varrido todas as manhãs
lá
onde a fuba substitui todas as claridades
lá
onde a cerveja escorre pouco
porque não há dinheiro de comprar.
Caminhos antigos
onde a eletricidade começa a fazer circular
"idéias estrangeiras"
onde os motores dos carros
acordam as madrugadas das crianças
que antigamente ouviam passarinhos.
As fendas, os muros, os tetos
os buracos dos caminhos
esboroando-se no passado
alcatrão penetrando e desmentindo a mudança
cimento e cal erguendo os muros cinzentos das fábricas
saias lutando contra os panos das velhas
telefone até.
Nas almas... um grande vazio
preenchido pelos merengues que vêm de fora.
Lá - caminhos da vida
Lá no mato. Lá no campo. Lá na floresta. Lá no estrangeiro.
Lá onde se nasce, vive e morre todos os dias
com kambaritókué ou sem ele
com um lençol simples ou uma vala comum
morrendo apenas é que tudo acaba.
A vida tem de ser dignamente vivida.
Vamos juntar as nossas cobardias
os nossos sofrimentos
as nossas ansiedades
nossas angústias
nossos sorrisos
nossos sarcasmos
a nossa coragem
nossas vidas.
Vamos
Lá - no musseque - areais vermelhos
onde passam os caminhos da vida
e vamos
dizer
corajosamente
às crianças que esperam o nosso exemplo
que este quintal
tem de ser estrumado com sangue
adubado de sofrimento
cultivado com as dores
mangueiras
anoneiras
gindungueiros
frutificando ao sol e ao luar
para quê dizer mais versos
que só o povo entende?
(Antologia de poesia da Casa dos Estudantes do Império - Angola e S. Tomé e Príncipe)
* -
ERNESTO LARA FILHO, autor que recordo, quando produziu esta maravilhosa peça poética, visionava e lutava por UMA ANGOLA INDEPENDENTE. Deixou de estar connosco em 1977 - quando Luanda (a capital) já tinha arranha-céus,como aquele outro que se vê em plano secundário nesta imagem que nos mostra uma parcela da Luanda modernizada, graças aos valores advindos da produção petrolífera. À esquerda uma esguia margem da nossa linda baía. No resto, a minha querida Luanda, ainda conservada, de casas com telhados de telha rosa e árvores esplendorosas, que me escondiam do Sol e me deixavam ouvir os pardais em tempo de chuva.