
Rute. Nome de mulher portuguesa. Que teve Mãe e também Pai. Rute nome de mulher portuguesa. Nada a ver com Rute, a órfã moabita que Boaz tomou por mulher, que possuiu e que o Senhor lhe fez conceber, e deu à luz um filho.
A Rute que eu conheci, nunca teve essa felicidade. Não sei por que não teve. Conheci-a quando ainda morava na Tapada das Mercês (Sintra,Portugal) por a ver, todos os dias, acompanhando um homem de nome Vitorino, com sacos e com carrinhos de mão, percorrendo as rua a gandaiar. Ele forte e bem constituído, coxeando mas andando lesto. Ela magrinha, cara tristonha mas com um sorriso indeciso para quem a saudasse. Eu conheci o casal deste modo. Até simpatizei, pensando como é fácil encontrar trabalho que dá para não morrer de fome, num país de privilegiados, onde um emprego encontrar é como agulha no palheiro. Até ao dia em que Vitorino se revelou boçal e indivíduo mal formado, ao pontapear um prato de barro que minha mulher colocara junto dos contentores de lixo, para pôr água onde um cão abandonado se habituara a ir ali mitigar a sede. Foi a Rute quem afirmou ter sido ele quem partira o prato com um pontapé, correndo com o cão. Daí não mais olhei para ele como antes.
Rute está morta. Ele, o energúmeno Vitorino (boçal, desprezível) matou ela à pancada! E escondeu o cadáver na mata próxima da tenda onde ela lhe lavava a roupa, confeccionava as refeições e se sujeitava a todas as sevícias. Não era difícil adivinhar a vida da pobre Rute. Uma vez desabafou com minha mulher a quem confirmou que o companheiro lhe batia forte e feio. E havia um outro homem de permeio. Nada dele posso dizer, além de que, ultimamente o via muitas vezes na companhia de Rute, em viagem simultânea de Lisboa para Sintra. Nas vezes que olhei para eles, ela apresentava um ar triste mas com aparência higiénica e alindada de brincos. Ele, homem aparentando 40 anos, de barba grisalha. Ambos engajados na vida da gandaia, longe da Tapada. Por último deixei de os ver no comboio. Vi o Vitorino uma ou duas vezes, no mesmo comboio, de trólei carregado do fruto das recolhas feitas nos lixos de Lisboa.

Pela notícia referida, fiquei a saber que um informador da Polícia local dissera que Rute tinha estado na esquadra a pedir apoio e apresentando queixa contra o seu companheiro.
Rute está morta. Vitorino, não sei dele. Provavelmente – com a noiva legislação estará em liberdade aguardando que a investigação o aponte como o assassino de Rute. Não faço ideia, de como possa estar o assunto. Nem do outro comparsa da gandaia eu ouvi falar.
Acabo, ainda mais triste do que quando comecei a escrever este desabafo. Numa época em que nós vemos por todo o lado que é comunicação, campanhas de combate à violência doméstica, como aconteceu não se dar ouvidos e logo agir por precaução para evitar que Rute fosse assassinada? A Polícia foi alertada. Ou será que Rute deveria ter agido de outra forma? Difícil avaliar o problema. Fácil, é concluir que Rute foi assassinada e despojada na mata. Seu corpo encontrado já em decomposição foi para a Medicina Legal para a autópsia confirmar o motivo da morte. Por quem? Só com provas o poderemos afirmar… mas não é difícil admitir quem seja o assassino.
Miríades de sois irão pôr-se e nascer…
até sabermos como tu se passou.
Que Deus me perdoe se estou errado. - Carlos Pereira
Que Deus me perdoe se estou errado. - Carlos Pereira