domingo, junho 18, 2006

problemas

COMBOIO DA LINHA DE SINTRA
ATACADO EM BARCARENA
  • O pânico gerou-se em toda a composição

  • De repente comecei a ouvir muitos gritos de aflição e um movimento atabalhoado de gente a fugir da primeira carruagem, procurando alcançar a última que era aquela onde eu estava, descansadinho, lendo mais umas páginas do polémico Código Da Vinci.
    Ontem, eram cerca das 00h20, e o comboio da CP da linha de Sintra, que saíra de Sete Rios, às 23.49, estava estacionado em Barcarena.
    Petardos estranhos de sons indefinidos, parecendo mas não sendo tiros, mas talvez pedregulhos atirados contra as carruagens. Na maioria, eram pessoas de sexo feminino gritando aflitas, algumas lançando-se para debaixo dos assentos das carruagens com as cabeças enfiadas entre braços.
    Alguns homens corriam também sem saberem para onde iam... apenas corriam à frente do pelotão, espevitados a olharem para trás... eu só via pasar gente.
    Um tiro aconteceu... talvez dois. Afirmação duvidosa embora eu tenha visto nas plataformas da estação alguns polícias com metralhadora prontas a serem pressionadas nos gatilhos... Eu, e mais um emigrante africano, entreolhávamo-nos interrogativamente sem cada qual responder às perguntas que nos ocorriam. Não se percebia. Ele dizia:
    - Na margem Sul não acontecem estas coisas... a GNR conhece eles todos... por isso eles já não se atrevem...
    Eles, referia-se o meu interlocutor, aos miúdos filhos de emigrantes, que andam a monte neste paíse se juntam em grupos, ou mesmo formando gangues.
    E nossa conversa ficou-se por ali, pois uns petardos atingiram a carruagem bem pertinho de nós e ele mergulhou no chão que nem o melhor guarda-redes do mundo o faria com tanta ligeireza. Eu, nem sei porque sou assim calmo ou parvo, sei lá... - pois reduzo-me a simples espectador. Qualquer dia lixo-me...
    Uma senhora de importação temporária, gorduchinha com uns pára-choques enormes retinha-se irrepreensivelmente quieta de baixo do banco. Não vi ela a enfiar-se lá... nem sei como o conseguiu. Uma outra, menos gorda, mas também muito bem fornecida de carnes, apenas estava deitada de barriga para baixo, no corredor da carruagem de mãos postas, rezando.
    Sirenes ouviram-se pouco depois... e o maldito do maquinista não arrancava dali nem por nada... Porra! Comecei a recear o pior quando novas pedradas atingiram a carruagem.
    Creio que o receio começara a preocupar-me. Os alaridos não paravam, as pessoas movimentavam-se depressa de olhos esbugalhados. Não sei se os meus estariam na mesma. Sei que queria que aquela merda acabasse e o comboio saísse dali.
    Sentei-me. Olhei não sei para onde... ajustei o som da minha prótese auditiva e quedei-me em pensamentos que me levaram para lugares longínquose fiquei mais calmo. Até que, finalmente, o comboio arrancou. Cheguei a casa com um atraso de meia hora.
    Conclusão nenhuma. Pois ninguém explicou, nem durante nem depois, do ataque concretizado por marginais, ao comboio da Linha de Sintra, quando estava estacionado em Barcarena. Se alguém ficou ferido não sei. Mas que muita gente não ganhou para o susto, lá isso posso garantir que houve e não dezenas... mas centenas. Que susto! Carlos Pereira