sábado, julho 29, 2006

Manuel Alegre [III]



A POLÍTICA QUE ...
NÃO ME SERVE...

Aprendi muito mais em 12 anos do que em 64. Doze anos após a independência de Angola, meu torrão natal, vividos no cerco constante, imposto pela Unita, no Planalto Central (Huambo), onde fui director da Emissora Regional da Rádio Nacional.
Aprendi pelo envolvimento directo com um povo acabado de garantir a verdadeira personalidade das massas populares, de expressão livre e consciência da liberdade que acabara de conquistar, após 500 anos de domínio colonial. O dia-a-dia, sempre diferente, sem o supérfluo tentador mas com o essencial, no rescaldo da essência de uma revolução triunfante, foi ensinamento multiplicado que me valorizou culturalmente, deixando-me compreender melhor o que é ser homem de uma classe, sem privilégios, mas com direitos e deveres bem definidos.

Compreender as razões criadas pelas carências, sem descambar para rumos da ilegalidade, olhando olhos nos olhos os interlocutores do acaso e os da obrigação, semearam em mim uma noção mais exacta das diferenças que existem entre o justo e injusto. Foi, para mim, maravilhoso, viver esse período de consolidação da independência do povo angolano, no qual, bem ao contrário das verdades, pelo mundo capitalista se espalhavam notícias deturpadas sobre a vida angolana. Em doze anos até tive tempo para ver a minha prol aumentar com o caçula que sempre desejei.

Todo este corrupio de acontecimentos reais - citados neste tema sobre a reforma atribuída ao dr. Manuel Alegre - para que as minha discordância para com a aceitação de tal benesse (inesperada (!) para MA) possa ser melhor entendida, sobretudo, porque Manuel Alegre, um revolucionário com currículo valioso, afinal, quando toca a usufruto materialista, é igual a qualquer um humano que nunca sentiu na pele a luta pela sobrevivência. Porque esqueceu-se que, nem tudo o que o 25 de Abril plantou, foi denegrido, e que, em Portugal, felizmente, ainda há jornalistas que lutam pelas liberdades de expressão e não se rendem a nomes mas sim a factos. Um pormenor importante que nem o Procurador da República conseguiu, pela prepotência, neutralizar. E, assim, aconteceu a notícia da vergonhosa atribuição da sua reforma, aceite com todo o desplante como se se tratasse da liquidação de uma factura a cobrar com débitos revolucionários impagáveis, por terem sido parcelados ao longo de um conceito de luta espontânea e não encomendados ou requisitados.

A Manuel Alegre que, na Ilha do Pico ancorou para férias, desejo que o famoso peixe grelhado no Ancoradouro e o o saboroso branco Frei Gigante lhe tenham feito bom proveito, já que problema de consciência não deve ter sido criado ao pagar com dinheiro proveniente do sacrifício do povo que é sobrecarregado com impostos sobre impostos.
Faço minhas as palavras de Gracinda de Sousa Botelho: Se tivesse uma reforma para gozar, pegava nas minhas tamanquinhas e ... rumava a ilha do Pico.