quinta-feira, outubro 13, 2005

diário


EPISÓDIO UM

ESTA É UMA ESTÓRIA DE FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM NOMES, INSTITUIÇÕES, FACTOS DA VIDA REAL É PURA COINCIDÊNCIA.<
oooOOOooo

Segunda-feira, de uma semana qualquer, ao bater das 10h30 : -
Um open-space repleto de gente em expectativa de ouvir seu nome através dos altifalantes. Uns roendo unhas. Outros lendo ou fingindo ler. Outros ainda, embora cansados de verem sempre as mesmas imagens, olham o monitor de televisão, um plasma dos grandões. Eu entro e procuro a informação necessária para saber o que estava ali a fazer. Uma jovem gorduchinha da minha altura, bonitinha mas gorda a transbordar as medidas permissas a qualquer jovem elegante, exibindo seu crachat de segurança, indica-me um guiché.
- Estou aqui para ser internado. O que faço?
- Seu nome por favor -perguntou-me a fulana que estava do outro lado do vidro.
- Está aí no papel. Não sabe ler?
- Claro que sei. Aguarde nessa sala aí ao lado e espere que o chamem.
Foram mais de 30 minutos a olhar para aqui e para ali até que, finalmente, o desejado apelo chegou:
- Doentes para serem internados, queiram dirigir-se ao guiché...
Eu e mais uns tantos que ali estávamos para sermos retalhados, fomos ao encontro de um senhor ajudante de enfermagem que mais parecia cobrador de ónibus e o seguimos por corredor - qual entrada da meia maratona -, até onde estava um elevador enorme, que comportou cerca de 15 pessoas sem ser preciso empurrar. Chegados ao quinto piso... saimos em fila indiana. Lembrei-me de meus tempo de garoto em que na fila da escola esperava a hora para levar palmatoada.
Foi o galopar para várias enfermarias... fiquei numa onde apenas estavam dois fulanos já operados... um gemendo de vez em quando.... e, o outro eu vi correndo para a casa de banho agarrado ao berimbau... numa luta contra a incontinência... em que nunca se leva melhor. Chato... as calças estavam visivelmente molhadas. Chato, mesmo. Um enfermeiro gordito, daqueles do estilo do célebre músico de jazz americano Duke Ellignton, barrigona, andar bem compassado, calça larga em cima para disfarçar a barriga e curta junto ao pé, meio careca, óculos graduados se aproximou e desatou a questionar-me sobre meus padecimentos... que lista. Caramba. Conversa p'ra aqui e p'ra ali que terminou assim: - por que nome o sr. quer ser tratado?
Não esperava tal pergunta e respondi a correr: - Carlos.
- Obrigado sr. Carlos. Vou tirar sangue do senhor Carlos e amanhã se manhã o sr. Carlos vai ser operado. Boa Sorte!
Simpático, né? A simpatia aliás é apanágio de quem nasce do outro lado do Equador... pelas bandas ocidentais da África. [Fim do primeiro episódio]