sábado, outubro 29, 2005

incongruência

O PIOR DA DOENÇA É A IMPESSOALIDADE, A QUE ELA NOS CONDUZ SEM NENHUMA ESPÉCIE DE VONTADE PRESERVADA - QUANTO À INTIMIDADE, DEVASSADA POR DENTRO E POR FORA NEM É BOM FALAR NISSO - O INDIVÍDUO SENTE-SE APENAS UM MANEQUIM DORIDO, QUE MÃOS ESTRANHAS OU FAMILIARES MANOBRAM COM DOÇURA DE UMA PACIÊNCIA EXAUSTA.
[ Miguel Torga - Diário - VIII ]


SÉTIMO EPISÓDIO

ESTA É UMA ESTÓRIA DE FICÇÃO QUE PODE CONTER CENAS EXPLÍCITAS, ASNEIRAS IMPENSÁVEIS, VÍRGULAS FORA DO SÍTIO, SINTAXES DISCUTÍVEIS, ONDE QUALQUER SEMELHANÇA COM NOMES, SIGLAS, INSTITUIÇÕES, FACTOS DA VIDA REAL É PURA COINCIDÊNCIA.
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Ainda sexta-feira, da mesma semana:

MORRER AFOGADO EM TERRA!

Neste mesmo dia, mas depois da família ter deixado a cena hospitalar, o Luís pregou um susto a todo o Mundo. Um homem habituado a passar dias a eito, à torreira do Sol, curvado sob a estrada com martelo na mão trabalhando a renda artística de colocar pedrinhas no solo, ladrilhador franzino e irrquieto, nunca podeira estar satisfeito no marasmo deste ambiente. O anseio (de todos nós afinal...) de receber alta e voltar ao martelar dos paralelepípetos, levou o Luís a cometer a incongruência de beber quase seis litros de água... para tentar safar-se depressa e dar um aspecto claro à urina, numa jogada por ele imaginada, só porque o enfermeira lhe dissera:
Senhor Luís, beba água, muita água porque isto está mau.
Daí o homem que só queria fumar e nada de beber água, desatou a encher a bexiga, o estômago (que nem o Zeca Pagodinho bebendo água em vez de cerveja... na imagem) e por aí acima até que, às tantas, desatou a vomitar...
- Ai os meus dentes.. cairam aí dentro do saco... ai.. ai... que porra esta!
Perdeu a prótese dentária e só com muito boa vontade a conseguiu recuperar. Imagine-se a cena.. Entretanto um corropio de enfermeiros ocorria de tal ordem que acabou por o Luís ir parar na sala ao lado ligado à "maquineta" onde passou toda a noite a "nadar" escapando de morrer afogado em terra.
Entretanto, na minha frente, já quáse na hora de receber o papel da alta de enfermagem, Vítor Pereira, reformado de 61 anos - mas muito bem conservado -, embora ainda gemendo um pouco com as dores durante a micção, ludribriava a enfermagem (ai não... sair dali era o desejo primeiro..) deitando água no recipiente de urina... para aclar e disfarçar os restosde sangue na urina. E consegui, pois nesse mesmo dia teve a alta tão desejada.