A cidade do
Huambo* (Nova Lisboa) após o 25 de Abril, seria a capital de Angola se a UNITA (com o apoio dos EUA, da África do Sul e de Portugal) derrotasse o MPLA. Estando no meio desse conflito imediato e, ainda, com a presença das forças armadas portuguesas, enfrentei situações muito complicadas, correndo riscos todos os dias por me encontrar sob a mira da UNITA. Seria normal que eu fizesse o jogo de interesses de Jonas Savimbi, visto residir no
HUAMBO, onde a maioria dos umbundus (e dos portugueses eram fidelizados à UNITA), mas, eu não alinhava nisso porque. Felizmente, cedo me apercebi de quem era Jonas Savimbi, graças ao meu amigo Filipe. Ele sabia umbundo e alertou-me para o facto de o líder
unitista dizer uma coisa em português (os portugueses eram maninhos...) e outra em umbundo(os portugueses eram colonialistas e tinham de ser instigados a sair de Angola).
Na efervescência da luta étnica (umbundus e kimbundus) e política, o termo
balcanização sintetizava a ambição de Savimbi em dividir Angola pelas fronteiras de Benguela e do Kwanza-Sul. Nem pensar... Os acordos de Alvor (Janeiro de 1975) não preconizavam divisões e o MLPA (minha opção política) tinha como lema:
ANGOLA DE CABINDA AO CUNENE. E a minha função como correspondente-delegado da Emissora Oficial de Angola dava-me autonomia e responsabilizava-me por quanto noticiava ou comentava pelas antenas nacional e internacional de Luanda. E nunca fui molestado, nem pela Direcção Nacional da Emissora, ainda sob controlo português, nem pelo Governo em exercício.
Paralelamente, aceitei colaborar com o DIP (Departamento de Informação e Propaganda) do MPLA, ao lado de homens de carácter (J. Fernandes, Albano Machado, Joaquim Kapango e alguns outros). Assim foi por meu intermédio que o programa ANGOLA COMBATENTE passou a ser transmitido pelo Rádio Clube do Huambo, onde assinei um contrato de publicidade, exigido pelo Alexandre Caratão, na ocasião Chefe de Produção. Aliás, nas antenas (que mais tarde eu assumi a responsabilidade...) deste Rádio Clube e com a autorização desse meu amigo, eu fui citado por um grupo de portugueses como
persona non grata facto para o qual fui alertado da armadilha que me preparavam, por um dos portugueses que não alinhou (Fernando Silva, do Poço da Morte) e que visava a minha eliminação pura e simples. Foi o Filipe que, numa manhã de chuva torrencial daqueles dias em que o griso nos obrigava a preguiçar na cama -, me telefonou de Benguela a elucidar para me acautelar e a oferecer-se para ir buscar a minha família e alojá-la em Benguela e, me sugeria que permanecesse em casa até que o Fernando Silva me procurasse.
Assim o fiz. E, de imediato, ele se ofereceu para alojar a minha mulher e filhas em casa dele, enquanto o meu falecido cunhado Júlio Faceira, precavido de todas as cautelas e disfarces me levou para um apartamento alugado por ele, frente ao liceu.
Neste conturbado período, muitos outros acontecimentos ficaram retidos na minha mente, os quais, relatarei aqueles que tenham afinidades com a minha relação com o Filipe, a razão de ser destes posts em que falo tanto da revolução que eu, com a UNITA a morder-me os calcanhares, acompanhei na cidade do Huambo. De onde tive de retirar... para, em Janeiro de 1976 regressar e me sentar na cadeira onde, naquele dia em que assinei contrato no Rádio Clube do Huambo, estava o Alexandre Caratão (apoiante de Jonas Savimbi) e ali ficar durante 12 anos à frenteda Emissora Regional da Rádio Nacional de Angola.
Até amanhã.
Huambo* - Tem de área 34.270 km
2 e sua população aproximada é de 2 milhões de habitantes de etnia predominantemente umbundo. A sua capital é a cidade de
HUAMBO. É limitada pelas províncias de Kuanza Sul, Bié, Huíla e Benguela.