sexta-feira, fevereiro 01, 2008

MANUCHO
recusado pelo
Estrela da Amadora
pouco antes de assinar pelo
Manchester United
Fonte: AO online- Lusa

MANUCHO GONÇALVES, a nova estrela do futebol angolano recentemente contratada pelo Manchester United, podia ser jogador do Estrela da Amadora, se não tivesse sido recusado nos testes que fez na Reboleira
Manucho Gonçalves, a nova estrela do futebol angolano recentemente contratada pelo Manchester United - e que está a confirmar-se com três golos marcados pelos "Barões Angolanos" na CAN'2008 podia ser jogador do Estrela da Amadora - emblema da principal Liga do futebol português -, se não tivesse sido recusado nos testes que fez na Reboleira, em Portugal. A informação foi avançada à Agência Lusa pelo vice-presidente do Petro de Luanda, clube que vendeu o melhor marcador do GIRABOLA nas últimas duas épocas ao campeão inglês de futebol, onde alinham os portugueses Cristiano Ronaldo e Nani. Amaral Aleixo desconhece as razões que levaram p clube da Amadora a deixar escapar o jogador, mas acredita que a ida do avançado, de 24 anos, para o Manchester United “prova que os clubes ingleses estão mais atentos ao futebol angolano”.

O novo craque dos “Palancas Negras”, que foi fundamental na histórica passagem da selecção angolana aos quartos-de-final da Taça das Nações Africanas (CAN) a decorrer no Gana, esteve, segundo Amaral Aleixo, em testes na Amadora semanas antes do negócio com a equipa inglesa. Em declarações à Lusa, em Portugal, onde se encontra com a equipa em estágio com o 1º de Agosto, o treinador português Vítor Manuel previu benefícios para o futebol angolano com a contratação de Manucho pelo Manchester United. Considerando “uma pena” que nenhum clube português tenha reparado no avançado, o técnico entende que a contratação de Manucho pelo Manchester United é boa para o jogador “e para o futebol angolano”, porque despertará as atenções de outras equipas europeias para este mercado.“Não se sabe o que aconteceu, as pessoas (em Portugal) estiveram distraídas e, se calhar, o Manchester United foi mais rigoroso na prospecção”, afirmou Vítor Manuel, que está disponível para apresentar futuros valores angolanos. O Manchester United emprestou entretanto Manucho ao Panatinaikos, clube grego treinado pelo português José Peseiro, situação que Amaral Aleixo só atribui ao facto de nos clubes ingleses “só jogarem estrangeiros que tenham feito um determinado número de jogos pela sua selecção nacional”. Questionado pela Lusa sobre o estado actual do futebol no país, Amaral Aleixo defendeu que as maiores dificuldades são as questões organizativas e a falta de formação dos dirigentes desportivos. O dirigente apontou também o problema da falta de infra-estruturas para a prática da modalidade, que não consegue absorver a afluência “massiva” dos praticantes de futebol. “As maiores dificuldades que o futebol está a atravessar são de ordem organizacional, nomeadamente a existência de dirigentes sem formação no ramo desportivo e fracas infra-estruturas. Embora se esteja a fazer algum esforço nesse sentido, a situação ainda é grave", salientou. Segundo o vice-presidente do Petro da capital angolana, “mesmo em Luanda, onde existem as melhores condições e capacidade”, nota-se ainda “um elevado défice”. O Petro de Luanda é um dos poucos clubes que tem uma escola de futebol, que, de acordo com Amaral Aleixo, nos últimos anos tem formado uma geração de jovens, como Flávio Amado e Gilberto, que evoluem actualmente na selecção angolana e no Egipto. Apesar de ter saído do Petro para o Manchester United, Manucho, segundo Aleixo, foi formado na escola dos “Flaminguinhos”, uma equipa do campeonato provincial de Luanda. O director do jornal desportivo angolano Mais Futebol, Pedro Magalhães, admite que o futebol português “ainda olha com desconfiança para os jogadores africanos e em especial para os jogadores angolanos”. A razão, segundo Magalhães, passa “muito” pelo facto de o futebol angolano ainda não ter as suas estruturas “totalmente profissionalizadas”, preferindo os clubes portugueses “recrutar na América Latina, onde os campeonatos são mais competitivos e profissionalizados”. Exemplo disso é o facto de a selecção angolana, apurada para os quartos-de-final da CAN'2008, feito único na história do futebol do país, ter apenas quatro jogadores oriundos das equipas de topo em Portugal, alinhando a maioria em clubes portugueses de segundo plano. Pedro Magalhães lembra ainda que o “fenómeno” Manucho passou ao lado do futebol português, “mas não foi por falta de ‘antenas’ em Angola”, porque no Girabola angolano (o campeonato nacional) estão três treinadores portugueses e Mozer, ex-jogador internacional brasileiro do Benfica. Carlos Mozer treina o Inter de Luanda, campeão em título, Manuel Fernandes o Asa de Luanda, Bernardino Pedroto o Petro de Luanda e Vítor Manuel o 1º de Agosto. Alguns problemas que podem ser apontados ao futebol angolano, passam, segundo o director do Mais Futebol, pelo facto de os clubes viverem muito na sombra dos seus presidentes, de quem “tudo depende”, a ponto de ficarem sempre em apuros quando eles saem.O facto de haver poucas equipas com escolas de formação em Angola, de não ser obrigatório os clubes terem equipas nos escalões juvenis e de não haver escolas privadas de futebol suficientes são outros problemas apontados. Isto porque o futebol angolano está muito centrado em Luanda, de onde são mais de 50 por cento das equipas do campeonato, e porque só um clube, o Inter de Luanda, tem estádio próprio. Os outros - 1º de Agosto, Petro, Benfica de Luanda e Kaboscorp da Palanca - jogam nos estádios da Cidadela ou dos Coqueiros. No resto do país, só Benguela, com o Nacional, o Huambo, com o Petro local, Cabinda, com o FC Cabinda, e o Lubango, onde têm sede o Desportivo da Huíla e o Benfica de Lubango, participam no Girabola. Em Luanda, existem apenas duas escolas de formação fora dos clubes, estando uma delas integrada na Fundação José Eduardo dos Santos (FESA), que a Lusa contactou, obtendo como resposta ser impossível fornecer quaisquer informações.